Não exija em mim o que não há em você...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O melhor amigo

    O Carlos era meu melhor amigo. O garoto que eu contava tudo, sabe? Desde as minhas paqueras (que não eram bem ativas) até quando minha menstruação atrasava no mês. Não tínhamos segredos pra nada! Era amizade de infância.. Desde pequena sempre andei com moleques. Uns diziam que eu era sapatona, mais isso não era verdade.. É que eu sempre achei amizade de garoto mais fiel, sabe? Não tinha aquela inveja igual amizade de meninas, muito menos aquelas coisinhas idiotas femininas. Eu nunca me importei com isso, agia da forma que eu achava melhor e não ligava pra opinião de ninguém. Ia todo domingo as quatro da tarde assistir ao jogo de futebol do time que ele fazia parte. Era o atacante e quase todo fim de semana ele fazia um gol pra mim e gritava “Ei, bia! Esse foi pra você!” eu nunca levei as atitudes dele pra um lado mais amoroso, da mesma forma que eu achava que ele não levava também. Nós íamos aos sábados no shopping e zoávamos toda vez. Dia de sexta á noite assistíamos filmes de terror, porque eu sempre amava dar sustos no Carlos nas partes mais sinistras do filme. Ficávamos no meu quarto sozinhos, deitados em camas diferentes. Minha mãe nunca ligou pra nada disso, mais sempre dizia pra mim “Você e o Carlos ainda vai casar!” logo minha mãe dizendo isso, acredita? Eu sempre falava pra ela “Que nada mãe, isso é viagem sua!” e ria disso como se uma coisa dessas nunca pudesse acontecer. Até porque não ia né? Bom.. Eu achava que não. Até que um dia isso começou a mudar.. A primeira vez foi num domingo, fui normalmente assistir o jogo de futebol.. E quando ele gritou pra mim porque tinha feito o gol como sempre, eu olhei pra ele com um olhar diferente sabe? Não era o mesmo de todas as outras vezes. Achei estranho, afinal, o que era aquilo? Mais deixei tudo isso pra lá, não me importei com isso não. Só que assim que acabou o jogo, o Carlos veio perguntar pra mim “Bia, porque você me olhou daquele jeito?” Puts, eu fiquei pasmada! Como ele percebeu meu olhar diferente? E respondi “Como você percebeu?”, ele apenas sorriu e disse “Ah, eu conheço você né pô!” Eu falei “Ah, foi nada não!”, ele não insistiu e deixou isso pra lá. Passou uns dias e quando chegou sábado no shopping ele simplesmente pegou minha mão e disse “Véi, se já percebeu uma coisa? Todo mundo olha pra gente com aquele olhar de: Vocês são namorados, né? Eu acho engraçado isso.” Eu refleti e acabei achando a mesma coisa, porque era verdade mesmo.. Mais quando ele pegou minha mão mais forte e olhou pra mim sorrindo eu simplesmente me derreti e pensei “O que é isso? Porque isso aconteceu?” e acabei tendo uma certa pergunta agoniante, afinal.. O que eu estava sentindo pelo Carlos? Cheguei em casa e falei tudo isso pra minha mãe. Ela olhou pra mim e disse: Filha, sinto muito lhe informar.. Mais você está amando o Carlos! Eu olhei pra ela assustada e disse: Como assim, amar mãe? Eu já amo o Carlos desde pequena! Ela apenas deu uma risadinha e respondeu: Filha, amar de outra forma.. Amor de namoro, casar, ter filhos, um carro, uma casa.. Entendeu? Assim que ouvi quase infartei, será que eu estava amando mesmo o Carlos? Não contei nada pra ele.. Deixei ver como eu ia reagir nos próximos dias. Dormia sempre pensativa, nunca tinha amado de verdade alguém.. E isso parecia me assustar. Embora não tendo medo do amor, me sentia insegura quanto á isso. Assim que chegou sexta-feira fomos assistir o filme como de rotina.. Ele numa cama e eu em outra. Só que na metade do filme eu olhei pra ele fixamente e comecei a imaginar “E se nós dois estivéssemos na mesma cama hein?” e viajava nos meus pensamentos.. Ele percebeu e perguntou rindo pra mim: Bia? Se tá bem? Eu sei que sou bonito, mais não precisa olhar tanto assim viu? Eu ouvi tudo de um jeito mais carinhoso, bem parecida com uma garota hipnotizada e respondi “É mesmo, você é tão bonito né?” Peraê, eu concordei que o Carlos era bonito? Onde eu estava com a cabeça? Bom.. A cabeça eu não sei, mais os pensamentos eram só nele. Ele deu uma risada enorme e duradoura.. Correu em minha direção e pulou em cima da minha barriga gritando “A Bia me acha bonito! A Bia me acha bonito” Eu toda sufocada gritava “Carlos, sai daqui!”, mais ele não me ouviu.. Apenas olhou pro meu rosto e acabou me beijando! Uau, o Carlos me beijando? Tem noção do que foi aquilo? Pois é, nem eu. Só lembro que foi o melhor beijo de todos.. Até mesmo do que o do Matheus da escola (Um garoto exibido, mais que beija super bem! O garoto mais lindo da escola.. Até hoje não sei como consegui pegar aquele mal caminho). Ultrapassou qualquer coisa, qualquer sensação, sabe? E durou.. Foi um beijo, dois, três e assim foi. Só não passou disso viu? (risos) Eu só sei que paramos porque já estava tarde e ele tinha que ir. No outro dia ele chegou em mim com uma timidez enorme. Logo ele né? Que nunca teve vergonha de nada comigo. Chegou em mim e conversamos normalmente, até o momento que eu cortei aqueles assuntos e perguntei “Você gostou do que aconteceu ontem?” Ele só deu uma risadinha baixa e falou “Eu amei!” Assim, se passou uns 2 meses.. Continuamos ficando, sem ninguém saber.. Era um segredo nosso! E cá entre nós, que segredo bom hein? Até o momento que ele chegou em mim e me pediu em namoro. Eu claro, aceitei. Contei a minha mãe tudo e ela apenas respondeu: “Está vendo? Aconteceu o que eu tinha dito.” Eu olhei pra ela e respondi “É mãe, dessa vez você acertou.” Namoramos três anos e meio.. Ele me pediu em casamento e hoje estamos aí, casados e felizes como nunca estive na minha vida. O Carlos, meu melhor amigo.. Virou além disso! Virou a razão do meu viver. Hoje temos um casa, um filho e um carro. Tudo como minha mãe disse á alguns anos atrás. Hoje tenho a certeza de que tudo que a mãe fala acontece. Hoje em dia brinco com ela dizendo: O que você diz acontece mãe! Fala que eu vou ficar bilionária também” E sorrimos, de uma forma sincera e boa. Porque mesmo não tendo o dinheiro que todo dia falo pra ela, tenho o Carlos.. A pessoa que eu nunca pensei em amar além do amor de amizade. O cara que hoje eu preciso ter pra ser feliz.

                                                                                                     — Karina Souza